quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A dor

Depois de muita convivência e partilha de bancos de espera em hospitais públicos, depois de muita observação nos cafés desses mesmos hospitais, concluo que a terceira idade de hoje em dia está, sem duvida preenchida de pessoas felizes. Sorriem e dizem obrigado. Não precisam de dinheiro para roupas novas. Só precisam para pagar as análises e ao senhor doutor. Convivem uns com uns outros e bebem alegremente café ou chá, no bar do hospital, ainda que acompanhados de uma lista infindável de doenças. Falam do tempo e do ar condicionado que esta exageradamente alto. Sorvem o leite da chávena sem se incomodarem uns aos outros. Têm sorrisos na cara pela manha, mesmo quando ainda faltam tantas voltas ao relógio para anunciar as 8:30 da manha. Têm esperança porque um dia talvez, quem sabe, não tiveram o que comer e hoje, tiveram um pequeno almoço generoso e alguém que os serviu, 
Sorriem. 
As gerações mais novas, por sua vez, atacam-se ao tentarem passar à frente. Bufam e soltam bafos de dragão impaciente. Não sabem ser benevolentes. Começaram a vida pelo capítulo do ter tudo e hoje, talvez, quem sabe, não tenham esse privilegio. Não o têm certamente, ou então  estariam numa outra fila num outro hospital privado.
Ontem estive na fila dum hospital privado. Hoje na fila de um hospital publico. E apesar de a possibilidade de tempos menos áureos se me avizinharem, só reconheci a esperança no meio da confusão dos públicos. 
A terceira idade estava la ... E sorria. Tal como a minha avó, deitada, no dia em que a vi pela ultima vez. 
E há dias em que ela ainda cá esta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário