sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Ter uma boa manhã

Ter uma boa manhã é acordar com dor de cabeça e revolta por sair da cama. É dar um beijo apressado na boca de quem sai do nosso lado, para poder dormir mais um pouco.
Ter uma boa manhã é encher-se de convicção e desafiar a vontade própria de permanecer inerte nuns lençois de inverno.
Ter uma boa manhã é saber sair da cama. Ir para a varanda apanhar frio e sol. É saber recebê-los, aos dois, cada um com a sua graça e carisma. É puxar os oculos de sol de dentro da carteira, e o cobertor de cima do sofá.
É trabalhar em casa neste conforto e desconforto que é saber-se estar também sózinho, no centro de uma cidade que sopra rapidamente e sem emoção, os que querem chegar sem partir.

E está um sol tão lindo e frio. E a varanda  alberga-me os trabalhos em curso. E as reflexões que penso sempre perdidas e vazias de si.
E trabalho e leio e vagueio. E estou sózinha. Mesmo sem estar.
O coração tem-me batido mais forte. Deve ser algum mecanismo compensatório. Porque a vida, a vida mandou-me viver sem medo. E o coração bate-se e empurra-se contra o peito, como uma cabeça numa parede, tentando fazer sair por uma ferida, esse medo que não se pode ter.

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