quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vi uma mãe e um cego ...

... ali ao lado do centro Hellen Keller.
O miúdo cego seguia, munido com a sua bengala, junto à parede. A mãe, afastada deixava-o tomar a sua passada, ganhar o seu ritmo.

Lembro-me da minha mãe me largar num autocarro, no Parque Eduardo VII, e deixar-me seguir sózinha no meio de tantos meninos e meninas desconhecidos que tinham a  mesma doença que eu. Tinha 14 anos. Concordei com a ida, mas logo me arrependi assim que ela me deixou. Tanta gente desconhecida.
E aquelas férias, passadas naquela colónia de férias, revelaram-se o início da minha conquista. O início da minha independência. O início do meu cuidar de mim própria.

Recordo-me das pessoas. Recordo-me das aventuras. Recordo-me de me lembrar da importância que a minha mãe tinha na minha vida e da percepção que tive de que o meu caminho, teria de ser eu a fazê-lo sózinha.

Foi uma experiência e tanto.

Há cerca de 4 dias atrás, a recepcionista do meu local de trabalho recebeu uma chamada para mim. Era pessoal.
Perguntou-me se conhecia aquele nome. S.G.. Aquiesci intrigada. Conheço, claro que conheço, mas não é daqui.

Era nada mais nada menos do que a primeira rapariga que fiz questão de conhecer naquele autocarro de desconhecidos. Pedi-lhe para se sentar ao meu lado, pois ela era mais ou menos da minha idade.

E longos foram os anos em que trocámos cartas. Voltámos a encontrar-nos noutras colónias de férias do mesmo género.

Mas agora, ela vira por curiosidade a minha foto no site do local onde trabalho e sentiu que estava ali, a oportunidade de voltar a comunicar comigo.

E falámos e falámos. A voz era igual. A emoção também.

E penso que seja isto a que chamam crescer e desenvencilhar-se .... e amizade também ...

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